Claramente podemos perceber como alguns alimentos são altamente viciantes. Mas não é qualquer tipo de alimento. Trata-se, em particular, de produtos industrializados e ultraprocessados que pouco têm a ver com alimentos naturais ou comida de verdade.
Uma nova pesquisa revela por que tão facilmente nos tornamos viciados nas salgadinhos de pacote, bolachas com produtos artificiais, pizzas congeladas e outros alimentos semelhantes.
O estudo, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, pesquisou sobre o vício que os alimentos processados podem nos causar.
Os alimentos como salgadinhos de pacote, pizza congelada, sorvetes e bolachas embaladas têm muito em comum substâncias tão viciantes como as presentes no cigarro e cocaína. Na verdade, mesmo o tabaco e a cocaína são substâncias vegetais que passam por refinamento e assim são transformadas em outra coisa, sofrendo uma “reconfiguração” destacando suas partes mais “agradáveis”.
E isso é exatamente o que acontece com os alimentos processados quando os processos de produção removem fibras, proteínas e água, deixando “formulações industriais” de açúcar, sal, sabores artificiais e outros aditivos, componentes que são rapidamente absorvidos pela corrente sanguínea dando “alívio” e prazer à áreas do cérebro relacionados a recompensa, a emoção e a motivação.
Sal, espessantes, sabores artificiais e outros aditivos em alimentos altamente processados também melhoram as propriedades gerais desses alimentos, como textura e sensação na boca, o que inevitavelmente aumenta o prazer de consumi-los.
Consumo diário de alimentos processados pode ser tão extremo que algumas pessoas experimentam efeitos colaterais semelhantes aos da abstinência quando reduzem a ingestão deles.
Conforme concluído e relatado no estudo: “Alimentos altamente processados (HP) têm concentrações anormalmente altas de carboidratos refinados e gorduras. Esses alimentos são altamente reforçadores e alguns (mas não todos) indivíduos os consomem compulsivamente. Alimentos ultraprocessados, assim como substâncias viciantes, são mais eficazes na ativação de sistemas neurais relacionados à recompensa do que alimentos minimamente processados. Mais importante, os alimentos ultraprocessados estão associados a indicadores comportamentais de dependência: diminuição do controle sobre o consumo, forte desejo, uso contínuo apesar das consequências negativas e repetidas tentativas fracassadas de reduzir ou eliminar a ingestão.”
Na investigação, que envolveu mais de 500 pessoas, alguns alimentos mostraram ter uma probabilidade particular de provocar comportamentos alimentares “viciantes”, como desejos intensos, perda de controle e incapacidade de reduzir o consumo, mesmo que as consequências prejudiciais eram evidentes.
Para a saúde pública em geral, as consequências negativas do consumo desses alimentos são altas. Em primeiro lugar há obviamente a questão da obesidade, que o consumo frequente desses alimentos favorece, e é justamente ao entender o mecanismo que os alimentos ultraprocessados desencadeiam em nosso organismo que podemos realizar intervenções voltadas para a contenção desse fenômeno.
Talvez iniciar um diário alimentar para tentar identificar quais alimentos desencadeiam em nós comportamentos e desejos de compulsão alimentar seja um meio de tentar controlar tudo isso. Assim que os alimentos problemáticos forem identificados, precisamos parar de comprá-los ou reduzir ao mínimo a frequência com que se consome.
Imagem de Capa: Ministério da Saúde